Crianças, hoje vou contar a história sobre como aprendi a importância das referências para criar.
Você provavelmente já ouviu a frase “Nada se cria, tudo se copia”.
O que você talvez não saiba é que essa não é a frase original e sim uma paráfrase de um conceito que mudou o entendimento sobre a química.
A citação completa é assim: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Essa frase é atribuída a Lavosier, o pai da química moderna.
Por mais que a gente veja muita cópia descarada nas “criações” por aí, hoje vamos discutir sobre como podemos sim criar coisas novas ao nos basearmos em outras coisas que já existem, as tão faladas referências.
A cópia pela cópia não é só errado (e dizer aqui que é errado não é a minha opinião – plágio é crime). A cópia é algo vazio, superficial, sem significado.
Agora, quando juntamos peças de lugares diferentes com as nossas conexões pessoais, as possibilidades de criação são infinitas.
Vamos começar nossa reflexão imaginando uma situação, vem comigo.
Desenhe uma cadeira
Imagine que você está numa sala, com outras 20 pessoas, todos com lápis e papel na mão. Alguém dá a seguinte instrução: desenhe uma cadeira.
A maioria das pessoas vai desenhar algo relativamente parecido: cadeiras com e sem encosto, algumas com quatro pernas, outras com três.
Quem sabe alguém desenhe uma cadeira mais moderna, outra inspirada na que tinha na casa da avó, ou aquelas cadeiras dobráveis de bar.
Pode sair também uma cadeira de praia ou a própria cadeira em que a pessoa está sentada no momento.
O fato é: todas essas pessoas tinham alguma referência do que era uma cadeira, mas todos os desenhos serão diferentes.
Isso não tem a ver com as habilidades de ilustração dos participantes, não é isso que estamos analisando. Tem a ver com a questão de que as pessoas são únicas e vivem experiências únicas.
Essa singularidade inerente do ser humano faz com que a cada criação que executamos, trazemos as nossas próprias referências à tona.
Assim, podemos desenvolver nosso potencial criador no momento que aprendemos a buscar novas referências, em outros lugares fora da nossa zona de conforto.
Como as referências ajudam a criar?
A partir do momento que você tem contato com algo novo, automaticamente o seu cérebro vai fazer conexões. Seja com aquilo que você já sabe, aquilo que viu em outros lugares ou com as suas vivências e experiências pessoais.
Por isso, faz sentido procurar referências e usá-las em suas criações, porque o seu resultado não será uma simples cópia, mas uma transformação daquilo com o que você já conhecia.
Veja a história do nosso amigo Gutemberg, por exemplo.
Importância das referências para Gutemberg
Gutemberg¹ estava estudando uma forma de produção de livros que fosse mais rápida do que a atual, que envolvia entalhar um bloco de madeira cada uma das letras e palavras, para depois passar tinta e então passar para o papel pelo atrito até que a impressão fixasse. Pense a trabalheira.
Ainda que esse método já fosse diferente da cópia a mão, ainda era muito trabalhoso. Para cada nova página, era necessário instalar as letras novamente, porque o material se desgastava muito facilmente.
Gutemberg então passou a testar com metal, fundindo letras da mesma forma que os selos e carimbos da época eram feitos. Veja, aqui já tinha uma fonte de referência: ele partiu de algo que já existia e adaptou para um outro contexto.
Contudo, como o volume de texto era muito maior para imprimir uma página inteira do que para fazer um selo ou um carimbo, ele percebeu que simplesmente atritar o papel com o metal não garantia uma boa impressão.
A ideia já estava indo por um bom caminho, mas ainda faltava alguma coisa. E foi numa visita a uma vinícola que ele encontrou a resposta que buscava.
Assistindo ao processo de produção de vinho, Gutemberg se deparou com a prensa que espremia as uvas. Essa nova referência o fez pensar “e se ao invés de gerar um atrito, eu pusesse pressão entre as formas de metal e o papel?”.
Foi juntando peças de lugares diferentes que ele criou algo novo: a imprensa, que mesmo hoje sendo já muito diferente, ainda é o mesmo termo usado para se referir aos meios de comunicação.
Dê o crédito das suas referências
Como eu tenho um pézinho na pesquisa acadêmica, já estou acostumada a referenciar as coisas (TONET, 2021).
Em pesquisas isso é algo bem comum, mas é difícil ver as pessoas citando a referência de conteúdos que compartilham na internet, especialmente nas redes sociais.
No livro Mostre seu trabalho², Austin Kleon defende muito a importância de apresentar as referências, quando fala sobre dar crédito às coisas que compartilhamos.
Compartilhar as referências é importante porque além de dar o merecido crédito a pessoa que desenvolveu o que você usou de base, também ajuda quem lê a saber de qual fonte você bebeu para criar aquele conteúdo.
Assim, se a pessoa que lê acha o conteúdo legal, pode se aprofundar lendo os livros e vendo os vídeos que você indicou como fonte.
A importância das referências
Se na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, aquilo que criamos também é fruto de transformação.
A importância das referências está em ser o ponto de partida de algo novo.
Quanto mais nós aumentamos o nosso repertório de referências, mais amplas se tornam as possibilidades de conexões que podemos fazer.
Além disso, ao compartilharmos nossas fontes, ajudamos outras pessoas a criar mais e melhor também. 🙂
Referências (óbvio né!):
¹ KNELLER, George F. Arte e ciência da criatividade, 1999.
² KLEON, Austin. Mostre seu Trabalho, 2017.